Vinil: uma feira da
família música
Domingo é dia de feira, de
vinil. Em sua quinta edição, o evento mostra que vai muito além da venda de
discos e da garimpagem. Preparem suas vitrolas!!!
Mesmo diante de todas as
inovações da modernidade, onde um álbum já pode ser lançado em formato de
aplicativo - caso de Biophilia, que resultou no prêmio de artista do ano a
cantora Bjork no Webby 2012 (espécie de Oscar da internet) -, a realização de
uma feira de vinil não gira nada estranho. Aliás, estranho seria se não
acontecesse, ainda mais em uma cidade como o Rio de Janeiro. A lendária
bolacha, que teve seu fim anunciado com a chegada dos Compacts (CD), continua
exercendo sua resistência, convivendo com suas limitações e, o mais
surpreendente, despertando interesse em novas e muitas pessoas. Com intenção de
atender esse público e suprir uma necessidade do próprio mercado, a feira do
vinil passou a ser realizada em diferentes capitais, sendo que a versão carioca
foi iniciada somente em 2010. Agora, em sua quinta edição, o evento - que
ocorre neste domingo (06), no Instituto Metodista Bennett -, questiona o porquê
não foi realizado antes e ainda mostra que o vinil pode ser um programa para
toda família.

“O verdadeiro mistério foi
entender porque o Rio de Janeiro nunca teve uma Feira de Discos antes”, exalta
Maurício Gouveia, um dos idealizadores do evento e gerente do sebo Baratos da
Ribeiro, onde ocorreu a primeira edição em 2010. “É incrível que o Rio, sendo a
vitrine cultural do país como sempre foi, apesar de todos os inúmeros pesares,
tenha saído atrás de tantas outras cidades, como São Paulo, BeloHorizonte,
Curitiba e Goiânia, onde a feira conta com apoio da prefeitura”, completa. Para
não deixar barato essa história, o portal Prefiro Vinil, criado em 2010 com a intenção
de reunir lojistas do país inteiro, se prontificou a apoiar essa iniciativa e,
a partir deste primeiro passo, a feira de vinil carioca começou a tomar forma,
já que foi bem aceita pelas lojas da cidade e contou com a correria do agitador
cultural Marcos “Spacecake” Oliveira. Antes de falecer no ano passado, vítima
de um ataque cardíaco aos 43 anos, Marcos já havia plantado a semente para essa
ideia dar muitos frutos e fixar suas raízes.

“Por sorte Marcelo Maldonado
sempre esteve próximo de nós, e seu recente envolvimento com a feira cultural
da Praça São Salvador o contagiou com esse ideal de feira que extrapola o
simples comércio. Maldonado também partilha com o Marcos de uma visão simpática
a parcerias com o Poder Público. E, sinceramente, não vejo como chegarmos ao
evento ideal sem a ajuda da Riotur (divulgando o evento em outros estados ou
países) ou da Prefeitura (autorizando o uso de um espaço público, por
exemplo)”, aponta Maurício Gouveia, que faz questão de exaltar: “Esta talvez
seja a principal questão: os lojistas, as gravadoras, as distribuidoras, o
pessoal da fábrica e mesmo as bandas precisam agir como parceiras que de fato
são - querendo ou não -, já que o mercado só funciona bem se todas as suas
engrenagens estiverem ‘bem lubrificadas’. Acho que só faltava mesmo alguém
arregaçar as mangas. E cá estamos”. A feira pode até ter demorado a sair do
papel, mas, depois de se “aprimorar na marra”, hoje faz bonito e vai muito além
da busca pela bolacha perdida.

Em sua quinta edição, a feira do vinil
do Rio de Janeiro apresentará 45 stands (90 mesas) com expositores de todo
Brasil, lojas virtuais e selos especializados, já que a ideia é reunir materiais diferentes. “É muito importante termos um stand especializado em
heavy metal, como o Rock Station, ou um em reggae/dub, como o Digital Dubs. Assim
como é imprescindível a presença da Polysom/Deck, que produzem as bolachas
brasileiras. Já as lojas de fora (gringas), que também estarão presentes na
feira – como a Tropicália In Furs (Nova York), de Joel Stones -, trazem LPs que
raramente apareceriam por aqui”, exalta Maurício, que ainda avisa que o espaço,
voltado para a formação de diálogos e novas amizades, contará com uma praça de
alimentação, um espaço para apresentações de DJs e, quem diria, até uma área de
lazer com recreadores para criançada deixar os pais garimparem à vontade.
Afinal, os dinossauros do rock & pop (de Mick Jagger a Caetano Veloso) já
são avós, o ‘colecionismo’ de LPs é um hábito que une gerações e o público
típico da feira é o casal tatuado, de 30 a 40 anos, muitas vezes empurrando um
carrinho de bebê”, completa.

A ideia da feira de vinil do Rio
de Janeiro é agradar quem gosta de caçar raridades e também quem gosta de música e não está interessado somente em comprar. Nesta edição, para
consolidar seu formato e sua missão, o evento contará com a participação do
jornalista Sílvio Essinger (autor de vários livros sobre música), o portenho
Diego Ernesto (cantor da banda de ska Dulces Diablitos), o DJ Great Guy
(morador do Flamengo) e o coletivo Grave Music (liderado pelo pesquisador André
Mansur), além de colecionadores que começaram por diversão - caso do jovem casal
Gabriel Almeida e Mylena Shapovalov. Apesar dos consideráveis avanços desta quinta edição da feira, Maurício ainda aponta algumas questões fundamentais para o
mercado do vinil se consolidar:
melhor oferta de vitrolas e preços acessíveis são pontos fundamentais,
além lançamentos de novos LP´s. “Quem realmente contribui para a revitalização
do vinil são selos como a Vinyl Land, que lançou Karina Buhr, Tulipa Ruiz
e B Negão, por exemplo, e a Deck/
Vigilante, com Volantes, Vivendo do Ócio, Pitty, Cachorro Grande e muitos
outros”, afirma o organizador. Domingo é dia de feira, de vinil e da família!!!
Instituto Bennet - das 12h às 20h
R. Marquês de Abrantes,55. Flamengo (próximo ao metro)
Entrada franca