Dona de uma curiosa e rica sonoridade, (in)definida
como “etnopop”, a banda mohandas chama o público para transformar o sonho do
primeiro álbum em realidade. É ouvir e participar!!!
A maioria das bandas possui bases
em amizades cultivadas desde os tempos de colégio, em sessions
descompromissadas e, é claro, na afinidade musical (amor à música). Os amigos
crescem; o som também, e o que era “apenas pelo prazer” começa a ganhar comprometimento,
ou seja, assumir a função de sustento – é ai que o sapato aperta, mas isso não
vem ao caso. Ao menos, não ao caso dos mohandas (seguidores de Krishna, do
hindu), que, neste aspecto, ainda caminham descalços, mas com passos firmes e
bem dados. Formada em meados de 2010, a banda, que atualmente conta com seis
integrantes (antes eram oito) – duas mulheres e quatro homens -, prepara o
lançamento de seu primeiro álbum, a ser financiado através de crowdfunding. O
processo, que não foi escolhido por acaso e sim por questão de ideais, está em
andamento e precisa de pouco mais de R$ 6 mil para atingir a cota necessária,
enquanto o prazo termina em menos de duas semanas. Ao se deparar com essa
energia e esse curioso “etnopop”, sonoridade que, segundo o vocalista Dudu
Lacerda, é caracterizada pela fuga dos limites e definida pela indefinição, a
contribuição é tida como certa, basta ouvir essa mistura.
“A banda começou se justificando pela necessidade urgente
que tínhamos de nos expressar musicalmente. É claro que nosso contexto de
amizade, de afinidades musicais e culturais, azeitou o encontro. Mas começamos
com o intuito de tocar mesmo, uma coisa meio ‘idílica’, romântica. Logo, as
coisas foram evoluindo para uma situação mais formal, no sentido de querer
‘montar um trabalho’, ou seja, construir algo voltado pro mercado da música, um
trabalho que pudesse fazer nosso som circular”, explica Dudu (percussão e voz),
uma das seis cabeças da banda, que também conta com Bel Baroni (percussão e
voz), Diogo Jobim (teclado e sintetizadores), Micael Amarante (guitarra/sax),
Nana Orlandi (percussão e voz) e Pedro Rondon (baixo e guitarra). Do primeiro
show, realizado em fevereiro de 2011, dentro da piscina de uma casa no Cosme
Velho, a banda amadureceu muito, lançou um elogiado EP e foi buscar a interação
com o público, isso sem falar na ousadia e na originalidade do som – uma levada
meio ska, misturada com ritmos regionais e, às vezes, cantada em francês com
vozes femininas e masculinas. Tudo isso cultivado e “vivenciado” na “etnohaus”,
a casa em Botafogo onde funciona o estúdio, a sala de produção e ponto de
encontro do grupo e amigos (o QG).
“Nossas influências não se esgotam na arte musical, mas passam também por informações de outras artes, da dança, do cinema, do teatro, da arquitetura, da literatura, da poesia, da vida na cidade e por aí vai. Tudo o que vivenciamos e que nos impacta, de certa forma, acaba sendo digerido e regurgitado coletivamente em nossa música”, explica o vocalista. Mas que som seria esse? A resposta viria na lata: etnopop!, o que abriria espaço para uma nova pergunta. Além do título do primeiro álbum da banda, que terá entre nove e 12 faixas – todas autorais -, etnopop ressignifica um pensamento sobre uma prática musical e, ao mesmo tempo, ‘funciona’ muito bem como rótulo de mercado, uma maneira de incomodar o pré-conceito, o pronto, o genérico, o vício das pessoas em querer encaixotar tudo - como argumenta Dudu, que ainda ressalta: “não é paradoxo, é linha de encontro de opostos complementares. É o homem e a máquina, a natureza e a tecnologia, o fogo e a água e o 3, que contém o 1 e 2. É um pretexto pra gente se desvencilhar de rótulos fáceis, e também para não ter que responder com clichês as perguntas sobre nosso gênero musical”.
O som inusitado dos mohandas não
possui uma receita certa, mas consegue se justificar muito bem na pluralidade
de seus integrantes - fotógrafos, atores, VJs, acrobatas, editores e antropólogos,
todos com uma paixão em comum: a música. “A sonoridade reflete totalmente a
formação cultural dos integrantes da banda, isso não tem a ver especificamente
com o fato de termos duas mulheres, mas com o caldeirão que se forma da soma
das nossas diferentes personalidades e gostos. O lance de não sermos apenas homens
cria uma peculiaridade não apenas estética, mas também emocional. As meninas
trazem doçura – e também, quando em vez, uma urgência, uma atitude e um senso
de desejo super decidido, que vou te dizer… ‘sai de baixo!’”, revela o
vocalista, que não poupa elogios ao falar do lado “elas” do grupo. “Trazem também
um outro horizonte de pensamento, de visão de mundo, de necessidades, sei lá,
isso sim é difícil definir. Mas posso dizer que é um trunfo, um ganho e um,
como dizemos, ‘plus a mais’”, completa.
Apesar de todo o trabalho que envolve o lançamento de um álbum, ainda mais o primogênito, os mohandas garantem que sempre encontrarão tempo e vontade para dar continuidade a já famosa série de apresentações na Pedra do Leme, conhecidas como “mohandas on the rocks”. Espécie de ensaios abertos, em meio a girassóis, luzes coloridas e máscaras, esses shows foram fundamentais para consolidar a sonoridade proposta e, principalmente, para aproximá-la do público. E, pelo jeito, continuarão sendo, já que a série segue na ativa. “Creio que enquanto existir mohandas, vai existir 'mohandas on the rocks'. Não é uma coisa que tenha periodicidade certa, é uma relação que temos, primeiro, com o próprio espaço, com a necessidade de estar com o trabalho 'na rua', e segundo, com as pessoas, tanto o público que já é cativo e fiel, quanto algumas pessoas que somam forças produtivas com a gente. Temos essa parceria com a Vanusa, do Quiosque do Leme, que é uma figura genial, uma mulher guerreira e que tem uma cabeça empreendedora, como a nossa”, revela Dudu, que, antes de finalizar, ainda fala como anda a gravação do álbum. “As bases já estão gravadas, temos ainda que terminar de gravar alguns instrumentos, vozes e etc. Depois, o trabalho segue com mixagem, masterização, prensagem, as recompensas para os devidos apoiadores do projeto e a divulgação. Aí, se Deus quiser, é estrada, palco e o ciclo recomeçando mais uma vez”. Que assim seja, mohandas!
Participe e contribua com o etnopop dos mohandas.