quinta-feira, 22 de março de 2012

#30

Me Gusta: Eli Iwasa na Fosfobox 

Com produção assinada por Fernando Deperon, a festa chega a sua quinta edição apresentando a DJ Eli Iwasa na caixa preta mais querida do Rio de Janeiro: a Fosfobox. A mi Me Gusta!

Alguns procuram apenas se divertir, outros escolhem de acordo com o som, com as pessoas que frequentam e com o que está “embobando” no momento, porém, todos querem uma única coisa: fazer a festa, literalmente. Apesar das reclamações em relação à falta de casas noturnas e de mais uma série de supostas adversidades, as festas cariocas de música eletrônica estão se destacando por explorar novos espaços, de casarões à beira-mar até cinema pornô, e novas propostas artísticas, como se o evento tivesse a obrigação de obrigação de agregar novas ideias e se transformar em um super-evento para deixar “a galera” feliz. Por outro lado, essa corrida em busca da inovação da semana que passou muitas vezes acaba ultrapassando simples exigências, como serviços, a qualidade do som e, até mesmo, respeito ao público. Na contra-mão desta tendência, a Me Gusta invade o Fosfobox nesta sexta-feira (23/03) com uma receita sem mistério e muita música. A mi me gusta!!!




Em sua quinta edição – a primeira realizada na caixa preta mais quente do Rio de Janeiro -, a festa, produzida por Fernando Deperon, apresenta um line up que dispensa apresentações. Isso porque, além do DJ residente Pedro Piu, a Me Gusta apresenta Eli Iwasa (entourage) e o projeto Rockker, formado por Kriptus Gomes e Ricardo Estrella (Tropical Beats), que, por sinal, ainda volta às carrapetas para fechar a noite com chave de braço. No andar de cima, ou “lounge fosfobar”, a Levada fica por conta dos Gustavos, Tata e MM. Para dar um brilho a mais, a noite também contará com as projeções do VJ Brainstorm. “A Me Gusta não é ‘mais do mesmo’ porque preza pela qualidade, conceito dos artistas, atendimento,  projeções mapeadas, decorações, promoções e facilidade de acesso ao publico, além de ser bimestral”, afirma Deperon, que completa: “Temos o intuito de preservar as origens da evolução musical, cultural e visual. As projeções do VJ Brainstorm e o conhecimento musical do residente Pedro Piu são itens fundamentais para o sucesso da Me Gusta”



Idealizar uma boa festa, independente do gosto da criança, não exige muitos esforços, assim como criticar uma produção: eu queria mais bebida, eu queria bebida mais barata e quanto é a bebida? Isso, sem falar nos “faria uma melhor”. O fato é que o que parecia ser simples e divertido, na verdade, é chato e trabalhoso. “No pré-evento, ficamos responsáveis pelas reuniões com os fornecedores, os orçamentos, as visitas técnicas, as negociações de valores e outros itens. No dia, de acordo com o cronograma elaborado anteriormente, acompanhamos a montagem, a recepção e damos um ‘check’ nos funcionários que irão trabalhar nos bares, bilheteria, segurança, monitoramento, decoração, abertura do evento, pagamentos, fechamento e desmontagem”, exemplifica Deparon, que começou a vivenciar o eletrônico em 97/98, época de Fundição Progresso, Guetto, Dr. Smith, Factoria, Bunker e Base. Apesar de todo o suor envolvido, o produtor parece não ter o que reclamar. “A preocupação é com a satisfação das pessoas e em escutar o muito obrigado. Ver a alegria e o sorriso estampados na cara das pessoas não tem preço”, completa.


Eli já é... de casa - Com uma longa e reconhecida trajetória na cena eletrônica nacional, seja como DJ residente, colunista e empresária (Heaven & Hell), Eli Iwasa é uma referência quando o assunto é pista cheia.  Mesmo depois de já ter rodado o Brasil e o mundo, a DJ paulistana não esconde seu apreço pela cidade maravilhosa e seus encantos. “É sempre um grande prazer vir ao Rio. Há anos me apresento e cada ‘gig’ foi especial a sua maneira. Fora que adoro essa mudança de ritmo. De sentar num boteco para tomar um chopp(s), ir a Lapa e, é lógico, ir a praia”, afirma Eli, que já vinha ao Rio antes de ser DJ. “Aqui, vi Laurent Garnier, Adam Beyer, Cari Lekebusch e tantos outros artistas incríveis. Nessa mesma época, vi pela primeira vez talentos como o Maurício Lopes e o Ricardinho NS arrebentando na Bunker. Eu sou fã do Mau Lopes. Quando crescer, quero mixar como ele, sério!”, ironiza a DJ, reconhecida por sua versatilidade de seus sets, que vão desde o minimal e dos sons mais abstratos até o house e funk, sem esquecer electro, do techno e do groove.



“Desde as grandes festas até as instituições como o Fosfobox e o Dama de Ferro, só carrego boas lembranças de todas as festas que toquei e frequentei no Rio. Todas as minhas ‘gigs’ foram ótimas, com a pista sempre respondendo, gente conhecida e sempre tocando o que gostava, sem fazer concessões. Para um DJ, não tem coisa melhor! Mas, o mais importante de tudo é que a cena carioca apoiou meu trabalho desde o comecinho da minha carreira. Sou super grata pela confiança e por terem botado fé quando eu ainda engatinhava como DJ”, ressalta Eli Iwasa, que antes de fazer as malas ainda manda um recadinho aos cariocas: “Não vejo a hora de chegar aí e pegar a pista do Fosfobox”. É amigos, a japa vai esquentar.


Fosfobox - R: Siqueira Campos, 143. Copacabana. 

Ingressos:
R$20,00 - Antecipados
R$30 - até às 1h
R$35 - lista após às 1h
R$40 - sem lista

Lista: listamegusta@gmail.com

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quinta-feira, 15 de março de 2012

#29

Riot de Janeiro: s/a da nova era

Reunindo ilustradores, designers, artistas plásticos, tatuadores, músicos e grafiteiros, essa inusitada “agência de criação” vive a arte em busca de novos conceitos e ideais.

A margem da sociedade, uma espécie de território fictício e, ao mesmo tempo, severamente existente, sempre apresentou uma originalidade criativa e uma capacidade única de lançar tendências. Mas, até pouco tempo atrás, esse conhecido lugar, mal visto aos olhos quadrados, ficava restrito somente às pessoas que vivenciavam esse ambiente e sua cultura paralela, além do preconceito (é claro). Apoiada em muitas outras mudanças dos novos tempos, a mesa dessa situação virou, e a sociedade, que antes não fazia questão de explorar esse mercado, já consegue valorizar toda arte absorvida e cultivada nas entrelinhas das cidades, vindo diretamente das ruas ou não. Aqui, o conceito da Riot de Janeiro, uma inovadora “agência de criação”, pode nos exemplificar um pouco melhor como os novos artistas podem trabalhar juntos em torno de objetivos em comum: o coletivo como um todo, a busca pela valorização da arte e, por consequência,  o reconhecimento dos jovens arteiros.


“A ideia surgiu no final de 2010, quando meu irmão (Hugo Inglez) pensou em fazer um blog de referências voltado pra arte, algo como o Ctrl Alt Rio. Logo, ele reparou que nós tínhamos amigos próximos que eram artistas incríveis, mas que nenhum deles recebia o reconhecimento merecido pelo nível do trabalho que estavam desenvolvendo. Isso muito por conta das inúmeras panelinhas que existem no meio artístico, principalmente no Rio de Janeiro. Então, ele reparou que o conteúdo artístico que ele precisava para o site poderia ser produzido por nós mesmos”, descreve Rique Inglez, irmão gêmeo de Hugo e amigo de Breno Moreira, três dos idealizadores do projeto. Apesar da semente ter sido plantada nesta época, a concepção da agência de criação foi iniciada há três meses e, pelo número de integrantes, já com a intenção de se tornar algo grande. Ao todo, a equipe Riot reúne 14 amigos, sendo três colaboradores e 11 artistas, entre grafiteiros, Djs, músicos, designers, artistas plásticos, ilustradores, fotógrafos e até tatuadores, uma curiosa e verdadeira mistura.


Reunindo propostas diferenciadas, como se cada dos integrantes fosse o elo de uma corrente da resistência artística, a Riot de Janeiro sobrevive a partir da experiência vivida de cada um. “Todos vêm de formações diferentes e alguns nem formação acadêmica têm. A verdade é que nós não nos importamos nem um pouco com a formação de alguém. Mesmo dentro da questão artística, seria muito difícil definir cada integrante, pois todos têm estilos muito diferentes e conseguem trabalhar em inúmeras mídias e técnicas. O único ponto comum mesmo é que todos têm um estilo próprio muito bem definido e original. Acho que é exatamente esse o diferencial da RiotJ. O que nós fazemos, só nós fazemos. Nosso foco é em ideias e exatamente por isso não podemos e nem queremos ter uma área específica. Qualquer ideia é válida e pode ser produzida. Dessa forma, podemos trabalhar com qualquer produto e, ao mesmo tempo, transformar tudo em trabalho”, acrescenta.


“Revoltados” com a falta de reconhecimento da arte, incluindo o ponto de vista financeiro, a Rio(t) surgiu como uma própria maneira de contornar essa situação de marginalidade artística. Desta forma, a união em nome da agência de criação também se tornou em uma verdadeira causa, muito justa por sinal. “Posso dizer que até o surgimento da RiotJ, em grande parte fomos basicamente ignorados. A todo o momento, um novo artista incrível e com imenso potencial desiste da carreira por simplesmente não conseguir se sustentar, enquanto outros medíocres ganham fama mundial com lixo. Nossa luta inicial é a mesma de praticamente todo artista jovem: conseguir sobreviver de arte. Há uma ideia absurda no Brasil de que arte não é ‘emprego’. O que é motivo de orgulho lá fora, por aqui é quase um estigma. Nós buscamos uma verdadeira valorização da cultura brasileira, por nós mesmos e por todos que ainda estão por vir”, dispara Rique, que também assina de um outro curioso projeto: o Artspam, um nome sugerido por Hugo.


Apostando no intercâmbio artístico, Rique elaborou dez cartolinas e também separou dez endereços totalmente distintos e aleatórios, todos para fora do Brasil. A ideia era apresentar ou presentear alguém com sua arte, mesmo sem saber o que seria feito com a mesma e nem quem seria o escolhido. Assim, quase em paralelo à agência, nasceu o Artspam, um spam que, ao contrário dos habituais, todos adorariam receber. “Meu sonho é que isso se espalhasse como uma nova forma de divulgação artística. Já pensou em novos artistas enviando seus trabalhos pelo mundo? Eu adoraria receber um e faria o possível para divulgar. Acho engraçado também como as pessoas ficam surpresas em ver alguém tendo uma atitude altruísta, o que mostra como isso não é comum atualmente. O mundo precisa de boas ações e de um pouco de espontaneidade”, afirma Rique, que, dos dez trabalhos enviados, recebeu apenas uma resposta, o que já fez o projeto valer a pena. “Pois é, recebi de um cara de Londres. Engraçado que foi a última que eu mandei. Fiquei muito feliz quando vi o email, já tinha até perdido as esperanças de resposta nessa primeira leva de cartolinas. Ele escreveu tudo num portunhol de google translator horrível, mas o email foi super legal e ele disse que se amarrou muito no desenho”.


Como parte da proposta do projeto, Rique retornou o email e explicou um pouco melhor sobre a proposta do Artspam e também sobre a cartolina, que trazia um desenho de com linhas muito finas, próximas e feitas com uma régua daquelas pequenas, de remédio (na foto abaixo). “Isso tornou o desenho mais legal ainda, pois as retas não são totalmente paralelas e isso dá meio que um efeito de movimento estranho. Improvisar com material é minha especialidade... No começo, eu tinha que me virar com muito pouca coisa e isso me ajudou bastante a encontrar o meu estilo, que é bem simples e minimalista”, explica Rique, que finaliza: “A gente quer conquistar o mundo partindo da cidade maravilhosa e mostrar que aqui nós conseguimos ter uma produção de nível mundial, mesmo com todas as dificuldades. O Rio(t) de Janeiro tem que ser uma referência em arte e cultura, e não só uma rebarba do que acontece lá fora, e eu não consigo pensar em uma época melhor pra isso acontecer”.


Saiba mais sobre a Riot de Janeiro no Facebook
Email: contato@riotdejaneiro.com

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quinta-feira, 8 de março de 2012

#28

Lightpaint: uma pintura de luz

Fotógrafo criado e (re)conhecido na cena underground, Henrique Madeira se destaca como um dos precursores do lightpainting no Rio de Janeiro. É luz, câmera e ação!!!

Figura mais que (re)conhecida no cenário underground carioca e fotógrafo “das antiga”, Henrique Madeira  aparece como uma referência em uma proposta artística que até pouco tempo atrás não era muito explorada no Rio de Janeiro e, por consequência, não chamava muita atenção. Trata-se do lightpaint (a pintura de luz), uma técnica de fotografia criada a partir da relação entre a luz e a velocidade do “disparo”, o tempo que o obturador fica aberto. “O lightpaint permite que você pinte um ambiente sem deixar marcas e com imagens fora da realidade, como pintar um barco no asfalto, um peixe pulando de um copo e as simples escritas. Ao longo do tempo de registro da foto em ambientes sem luz, você consegue fazer esses desenhos com lanternas coloridas, luz de celular, isqueiro e qualquer outra fonte de luz”, explica o fera ao aprendiz.


Apesar de todo seu ineditismo aos olhos do Rio, essa técnica já era usada, mesmo sem querer, desde 1914, quando Frank Gilbreth e a esposa Lillian Moller Gilbreth deixaram a câmera com o obturador aberto para acompanhar o movimento de produção e dos trabalhadores no escritório. Neste caso, como Gilbreth estava mais interessado em recolher dados para seu estudo sobre a “Simplificação do Trabalho”, o uso da técnica ainda não explorava o conceito artístico. O primeiro artista a usar o light painting como arte foi Man Ray, que se considerava um pintor e era conhecido por suas fotografias “avant-garde”. Em 1935, com a série “Writing Space”, ele apresentou a técnica pela primeira vez como arte. Já aqui no Rio de Janeiro, Henrique Madeira começou a “brincar” com essa história somente em 2008, usando uma Powershot. Mas, em 2010, seu light já era usado profissionalmente.


O fotógrafo Fabrice Wittner (autor da foto acima) recentemente voltou a colocar o lightpainting em evidência com a série “Enlighted Souls”, que trazia imagens quase reais de crianças e desabrigados do Vietnã e Nova Zelândia. Com a técnica do light stencil, Wittner
"pintou estênceis com personagens iluminados para lembrar a perda e mostrar o espírito de uma cidade destruída”, já que Christchurch tinha acabo de ser castigada por um intenso terremoto. Outra referência no assunto é o francês Marko 93, que destaca uma curiosa mistura de lightpaint com vídeo em seus trabalhos e vale procurar um pouco mais a respeito. Já o carioca de Campo Grande, em Lisboa, Henrique Madeira busca a originalidade através de sua conexão com a cidade. “Experimento o máximo de formatos possíveis, misturo várias influências e agrego as paisagens para completar o conteúdo. Sou um amante da fotografia e suas possibilidades, e o Rio é um dos lugares mais bonitos do planeta para se fotografar. Acho que misturei alguns elementos que deram certo”, detalha o fotógrafo.


Sob influência da cultura de rua, o lightpaint do fotógrafo carioca bebe da mesma fonte e, por isso, apresenta uma ligação muito forte como o grafite, tanto que sua técnica pode ser considerada como uma espécie de pintura sem respingos de tinta e sem limites. Além de já ter apresentado o lightpaint em uma série de eventos e festas, Henrique pretende usar o lightpaint com uma proposta mais comercial (em álbuns) e também possui alguns projetos artísticos em fase de finalização (inclusive, abertos a possíveis patrocinadores). No entanto, sua “menina dos olhos”, como ele mesmo descreve, é o projeto que em breve levará uma série de oficinas para crianças carentes e em tratamento no Hospital do Câncer. De acordo com o fotógrafo, a ideia é expandir o uso da técnica e firmar o lightpaint buscando novos horizontes. Aqui é luz, câmera, ação e muita consciência. Confira melhor as pinturas de luz do fotógrafo Henrique Madeira em seu próprio BLOG.

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terça-feira, 6 de março de 2012

#27

Rasmus: no topo do Dois Irmãos

Visando o alto de um dos postais mais clássicos do Rio, o DJ dinamarquês sobe o Vidigal e nos descreve um pouco melhor essa experiência e também sua sonoridade.

Em mais um dia de sol intenso - daqueles privilegiados, na praia do Leblon -, olhava o Morro Dois Irmãos e só conseguia imaginar uma coisa: como seria a vista lá de cima dessa montanha que mais parece um “elefantes de diamantes sentado”? Essa, em especifico, era uma indagação de Rasmus Lutzen, um DJ dinamarquês de passagem pelo Rio de Janeiro, mas poderia ser a de muitos cariocas, com certeza. Afinal, quem não toparia fechar um programa como esse. O fato é que nem todos sabem que isso é possível, permitido e, o melhor, não exige tanto esforço quanto pode parecer. Para subir no topo de um dos mais clássicos postais é preciso apenas vontade, já que a trilha é aberta, não apresenta riscos e possui acesso pelo alto do morro do Vidigal. Ou seja, além da vista da cidade, a “escalada” ainda conta com um verdadeiro “tour” por essa surpreendente comunidade.


Ao saber de tal facilidade, Rasmus, acompanhado de sua amiga Nicole (uma autêntica alemãrioca), logo se prontificou a fazer a trilha. Mas, como ele, que é lá da Dinamarca, foi parar no ponto de moto-taxi do Vidigal? “É a minha segunda vez no Brasil. Antes, fui muitas vezes tocar na Austrália, mas queria viver em uma cidade grande e diferente. São Paulo me pareceu interessante, já que a cena (eletrônica) é bem grande. Não sabia o que esperar e, por isso, contei com algumas dicas de brasileiros que vivem na Dinamarca, como o casal de DJ’s Renata e Jokke (que, por sinal, levantam qualquer pista)”, afirma Rasmus. “Passei meu primeiro mês no Rio e fiquei muito impressionado com a beleza da cidade, porém, surpreso que a cena eletrônica aqui ainda não é tão grande. Descobri que o forte aqui é a praia, como se o Rio fosse para o dia, e São Paulo para a noite”, completa.


Após cinco minutos subindo a Av. Presidente João Goulart e, pelo ponto de vista do Rasmus, desmistificando o estereótipo de uma “favela”, descemos da moto no Largo do Santinho, onde já demos de cara com um, segundo o dinamarquês, “inesquecível bloco”, que vinha descendo a ladeira em pura magia, enquanto o próprio já caia no embalo do samba e respondia a cadência da bateria (ele pirou). Subindo a pé até o final da mesma e infinita João Goulart, depois de passar pela Quadra - antes dominada pelo tráfico, hoje base da UPP -, pelo lindo campo de society e por centenas de becos e bares, paramos no último deles antes de pegar a tal trilha. A partir daí, partimos em direção à mata, onde andamos aproximadamente 45 minutos, contando, é claro, com algumas paradinhas. “No ano passado, conheci o Complexo de Alemão, onde eu fui tocar para a comunidade, convidado por Cabbet Araújo, no evento Abraço da Paz. No entanto, aqui no Vidigal é diferente”, afirma o DJ.


Do alto do Dois Irmãos, diante de uma vista indescritível que te cerca por todos os lados, o DJ dinamarquês começa a falar um pouco mais sobre seu trabalho. Apesar de trazer claras referências da escola escandinava em suas músicas, como Trentemoller e Kasper Bjorke, Rasmus, que já tocou em algumas festas de destaque por aqui, prefere exaltar a originalidade presente em seu som. “Eu gosto de priorizar as melodias nas músicas, dando um ar sexy
e suave. Normalmente, eu não olho muito para os artistas quando escuto uma música. Eu ouço os lançamentos e classifico as faixas que gosto de acordo com as datas, independentemente do rótulo e do artista”, aponta. Antes de voltar para Europa, Rasmus ainda se apresentará em algumas festas brasileiras. Em relação à caminhada até o topo do Dois Irmãos, trata-se de uma experiência única e viável. “A partir dessa vista, o Rio é definitivamente a cidade mais bela que conheci até agora!, completa o DJ, que também não dispensa um bom churrasco.



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sexta-feira, 2 de março de 2012

#26

Adeus à Carne: um desfile afiado

Em sua primeira montagem em grupo, o autor e ator(mentado) Michel Melamed usa o carnaval para brindar os fracassos da realidade sem ou pós-festa. "Carne Vale".

Com uma ousadia tão afiada quanto a Navalha (na Carne), de Plínio Marcos, a peça Adeus à Carne (ou Go to Brazil), primeira montagem em grupo de Michel Melamed, atravessa o samba e até mesmo o funk para celebrar a melancolia e o fracasso de uma realidade sem ou pós-carnaval - do latim “carne vale” e vale muito. Vale pela busca ao incomodo, ao diferente e pela aceitação do anormal. Trata-se de uma peça provocante e experimental, que geralmente não costuma agradar aqueles que preferem encenações de fácil digestão. Neste caso, a carne não desce, e o gole é seco como um trago.


Após um longo período de passagens de atores, cerca de 10 minutos, aparece a primeira fala do espetáculo: “Obrigado”, que antecede um suspiro e uma cusparada. Aqui, a falta de uma condução linear já abria espaço para um mar de interpretações, porém, ainda não havia como o público estabelecer conexões sem nenhuma onda. No entanto, com uma sequência de sambas tristes, o autor estabelece uma conexão mais clara com a festa do Adeus à Carne e apresenta sua desritimada e crítica escola no palco, começando pela comissão de frente, que “cria uma certa expectativa no público por sua coreografia diferenciada" – como explica o interlocutor.


Diferentemente de seus monólogos anteriores - “Homemúsica” (2007), “Dinheiro Grátis” (2006) e “Regurgitofagia” (2004), onde recebia choques de acordo com a reação da plateia -, “Adeus à Carne” traz Michel Melamed ao lado de mais cinco atores: Bruna Linzmeyer, Pedro Henrique Monteiro, Rodolfo Vaz, Thiare Maia e Thalma de Freitas, que aparece com a cabeça totalmente raspada. O figurino, de Luiza Marcier, também é fundamental na construção da decadência imposta aos personagens, que também são castigados, torturados e se apresentam como espécies de demônios - como seis emissoras de televisão.  O desfile segue com “a ala das crianças, que pode ser opcional, e com a Velha Guarda, onde vão os fundadores da escola”. Neste caso, a ala destacava os atores como emissoras e dançando funk proibidão do CV.


Depois de apresentar as alegorias de sua escola, representadas em cena por engenhosas estruturas mecânicas e amarras de alpinistas, a peça costura mais um punhado de devaneios e criticas até chegar a um ensaiado final irônico, como a própria apuração do carnaval e seus atordoantes 8.2, 9.4 e 9.9. Mas, que o cenário assinado por Bia Junqueira era digno de um “10!”, vindo do mais criterioso dos jurados,  ninguém poderá negar. Aliás, as engenhocas funcionaram muito bem, com destaque para um jogo da forca humano, e conseguiram suprir a falta de texto para acompanhar a mobilidade dos atores, que, por sinal, estavam todos muito bem (doidos). Desta forma, o desfecho da peça, assim como a dispersão na Marquês de Sapucaí e do “Duque de Caxias”, chega de um modo natural. A senhora sentada ao lado, assim como muitos, não hesitou em perguntar: já acabou?  'Carne Vale' a pena!.


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