quinta-feira, 15 de março de 2012

#29

Riot de Janeiro: s/a da nova era

Reunindo ilustradores, designers, artistas plásticos, tatuadores, músicos e grafiteiros, essa inusitada “agência de criação” vive a arte em busca de novos conceitos e ideais.

A margem da sociedade, uma espécie de território fictício e, ao mesmo tempo, severamente existente, sempre apresentou uma originalidade criativa e uma capacidade única de lançar tendências. Mas, até pouco tempo atrás, esse conhecido lugar, mal visto aos olhos quadrados, ficava restrito somente às pessoas que vivenciavam esse ambiente e sua cultura paralela, além do preconceito (é claro). Apoiada em muitas outras mudanças dos novos tempos, a mesa dessa situação virou, e a sociedade, que antes não fazia questão de explorar esse mercado, já consegue valorizar toda arte absorvida e cultivada nas entrelinhas das cidades, vindo diretamente das ruas ou não. Aqui, o conceito da Riot de Janeiro, uma inovadora “agência de criação”, pode nos exemplificar um pouco melhor como os novos artistas podem trabalhar juntos em torno de objetivos em comum: o coletivo como um todo, a busca pela valorização da arte e, por consequência,  o reconhecimento dos jovens arteiros.


“A ideia surgiu no final de 2010, quando meu irmão (Hugo Inglez) pensou em fazer um blog de referências voltado pra arte, algo como o Ctrl Alt Rio. Logo, ele reparou que nós tínhamos amigos próximos que eram artistas incríveis, mas que nenhum deles recebia o reconhecimento merecido pelo nível do trabalho que estavam desenvolvendo. Isso muito por conta das inúmeras panelinhas que existem no meio artístico, principalmente no Rio de Janeiro. Então, ele reparou que o conteúdo artístico que ele precisava para o site poderia ser produzido por nós mesmos”, descreve Rique Inglez, irmão gêmeo de Hugo e amigo de Breno Moreira, três dos idealizadores do projeto. Apesar da semente ter sido plantada nesta época, a concepção da agência de criação foi iniciada há três meses e, pelo número de integrantes, já com a intenção de se tornar algo grande. Ao todo, a equipe Riot reúne 14 amigos, sendo três colaboradores e 11 artistas, entre grafiteiros, Djs, músicos, designers, artistas plásticos, ilustradores, fotógrafos e até tatuadores, uma curiosa e verdadeira mistura.


Reunindo propostas diferenciadas, como se cada dos integrantes fosse o elo de uma corrente da resistência artística, a Riot de Janeiro sobrevive a partir da experiência vivida de cada um. “Todos vêm de formações diferentes e alguns nem formação acadêmica têm. A verdade é que nós não nos importamos nem um pouco com a formação de alguém. Mesmo dentro da questão artística, seria muito difícil definir cada integrante, pois todos têm estilos muito diferentes e conseguem trabalhar em inúmeras mídias e técnicas. O único ponto comum mesmo é que todos têm um estilo próprio muito bem definido e original. Acho que é exatamente esse o diferencial da RiotJ. O que nós fazemos, só nós fazemos. Nosso foco é em ideias e exatamente por isso não podemos e nem queremos ter uma área específica. Qualquer ideia é válida e pode ser produzida. Dessa forma, podemos trabalhar com qualquer produto e, ao mesmo tempo, transformar tudo em trabalho”, acrescenta.


“Revoltados” com a falta de reconhecimento da arte, incluindo o ponto de vista financeiro, a Rio(t) surgiu como uma própria maneira de contornar essa situação de marginalidade artística. Desta forma, a união em nome da agência de criação também se tornou em uma verdadeira causa, muito justa por sinal. “Posso dizer que até o surgimento da RiotJ, em grande parte fomos basicamente ignorados. A todo o momento, um novo artista incrível e com imenso potencial desiste da carreira por simplesmente não conseguir se sustentar, enquanto outros medíocres ganham fama mundial com lixo. Nossa luta inicial é a mesma de praticamente todo artista jovem: conseguir sobreviver de arte. Há uma ideia absurda no Brasil de que arte não é ‘emprego’. O que é motivo de orgulho lá fora, por aqui é quase um estigma. Nós buscamos uma verdadeira valorização da cultura brasileira, por nós mesmos e por todos que ainda estão por vir”, dispara Rique, que também assina de um outro curioso projeto: o Artspam, um nome sugerido por Hugo.


Apostando no intercâmbio artístico, Rique elaborou dez cartolinas e também separou dez endereços totalmente distintos e aleatórios, todos para fora do Brasil. A ideia era apresentar ou presentear alguém com sua arte, mesmo sem saber o que seria feito com a mesma e nem quem seria o escolhido. Assim, quase em paralelo à agência, nasceu o Artspam, um spam que, ao contrário dos habituais, todos adorariam receber. “Meu sonho é que isso se espalhasse como uma nova forma de divulgação artística. Já pensou em novos artistas enviando seus trabalhos pelo mundo? Eu adoraria receber um e faria o possível para divulgar. Acho engraçado também como as pessoas ficam surpresas em ver alguém tendo uma atitude altruísta, o que mostra como isso não é comum atualmente. O mundo precisa de boas ações e de um pouco de espontaneidade”, afirma Rique, que, dos dez trabalhos enviados, recebeu apenas uma resposta, o que já fez o projeto valer a pena. “Pois é, recebi de um cara de Londres. Engraçado que foi a última que eu mandei. Fiquei muito feliz quando vi o email, já tinha até perdido as esperanças de resposta nessa primeira leva de cartolinas. Ele escreveu tudo num portunhol de google translator horrível, mas o email foi super legal e ele disse que se amarrou muito no desenho”.


Como parte da proposta do projeto, Rique retornou o email e explicou um pouco melhor sobre a proposta do Artspam e também sobre a cartolina, que trazia um desenho de com linhas muito finas, próximas e feitas com uma régua daquelas pequenas, de remédio (na foto abaixo). “Isso tornou o desenho mais legal ainda, pois as retas não são totalmente paralelas e isso dá meio que um efeito de movimento estranho. Improvisar com material é minha especialidade... No começo, eu tinha que me virar com muito pouca coisa e isso me ajudou bastante a encontrar o meu estilo, que é bem simples e minimalista”, explica Rique, que finaliza: “A gente quer conquistar o mundo partindo da cidade maravilhosa e mostrar que aqui nós conseguimos ter uma produção de nível mundial, mesmo com todas as dificuldades. O Rio(t) de Janeiro tem que ser uma referência em arte e cultura, e não só uma rebarba do que acontece lá fora, e eu não consigo pensar em uma época melhor pra isso acontecer”.


Saiba mais sobre a Riot de Janeiro no Facebook
Email: contato@riotdejaneiro.com

Curtiu esse post? Sigam-me os bons Facebook e Twitter