quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

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‘5Pointz’ Cascais: num beco sem roteiro

Situada no distrito lisboeta de Cascais, mas distante de qualquer guia turístico e summer spots “xpto” - gíria portuguesa usada para descrever algo mais que elegante -, uma antiga fábrica de barcos e de lonas aparece como o nosso principal achado da viagem, tendo em vista que nem mesmo os “betinhos” locais sabiam descrever o que havia naquele local. No entanto, uma grade entreaberta e alguns grafites em seu interior já foram suficientes para decidirmos invadir e se surpreender com que aquele sombrio espaço abandonado poderia nos proporcionar. Skate e câmera na mão, além de alguns stickers e canetões na mochila, e lá fomos nós (num eu sozinho) explorar o imenso galpão – grande demais para não haver nenhum morador ou segurança. Roupas penduradas na janela do segundo andar, locais trancados, seringas de viciados em heroína, pedaços de pão velho, merda e lixo, muito lixo, também eram sinais de que possivelmente encontraríamos algum perdido por lá, impressão que nos acompanhou até o momento de deixar o local, situado bem em frente a um posto da polícia. O fato é que, depois que entramos, não conseguíamos mais sair, não antes de tentar registrar um a um os milhares de grafites que estavam espalhados por todas as paredes existentes. 



Embasbacado com a variedade de traços, cores e estilos, mas sempre com receio do que poderia sair por trás das paredes – como uma inimaginável ninhada de corvos, por exemplo -, demos início ao passeio pela galeria de arte urbana mais genuína e rua que poderíamos ter visitado, mesmo que as obras não estivessem à venda. Na verdade, dentro daquela espécie de “5Pointz” português não havia espaço para telas, enquanto os grafites estavam todos à margem e marginalizados, numa espécie de habitat natural, onde os fracos e os rock stars não tinham vez – a cidade cartão postal “Morangos com Açucar” adota uma espécie de política antigrafite, na qual a atividade é considerada criminosa e dá cadeia. Depois de mais de uma hora rodando o espaço com olhos de investigador, enfim, a situação parecia estar sob controle, mas apenas parecia, até escutar passos firmes vindo em nossa direção. Estrategicamente bem posicionados, observamos o que parecia ser um morador dos prédios vizinhos cortando o galpão como atalho para chegar à sua casa. Passado o susto, foi só finalizar as fotos, colar um stickers e deixar o local com ares de caça-grafite e sensação de dever cumprido. Moral da história: nem todo mundo tem vocação para ser “Hunter” de roteiro pronto. Às vezes, num suposto role perdido, você pode encontrar muitas coisas novas - até mesmo se encontrar -, sem falar que o “mastigadinho” nunca guardará o mesmo sabor. Vale a entrega, confiem no faro!!!




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