quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

#99

Mz: muito além dos tentáculos

Em entrevista ao Ctrl+Alt+RIO, o tijucano João Mazza fala sobre sua caminhada e os propósitos por trás dos grafites que vêm espalhando por todos os cantos da cidade. De olho neles!!!

Alguns observam e não se dão conta, outros reconhecem e tentam achar significados e muitos, que até então nem haviam reparado, certamente passarão a identificar e, principalmente, compreender. O fato é que tentáculos se multiplicam rapidamente pelos muros do Rio e, estando intrigada ou não, grande parte das pessoas desconhece o propósito dessa ação. No entanto, é melhor que elas se acostumem a lidar com seus monstros cotidianos, já que é essa a mensagem dos curiosos grafites de João Mazza - o Mz. Embora tenha começado a grafitar ainda aos 15, há oito anos, quando ainda assinava Emizê, Emze e Emz pelas ruas da Tijuca, o jovem carioca começou a se destacar recentemente – ao buscar uma relação mais direta com a cidade e novos desafios, sendo menos específico. “Eu comecei a grafitar sozinho com 14 para 15 anos e, desde então, com 23 agora, tive fases onde pintei mais e outras em que estive quase parado. Mas, chegou um momento em que as letras não me satisfaziam mais. Faltava mais propósito e mais diálogo com a cena, algo que fizesse as pessoas pararem para questionar o porquê de aquilo estar ali, do que se trata, e, ao mesmo tempo, que se misturasse com o cenário de uma maneira quase natural (...). Foi quando comecei a pintar os tentáculos do meu monstro”, explicou Mz em entrevista ao Ctrl+Alt+RIO.


Para ele, que diz poder falar por horas sobre os possíveis significados de seus grafites, incluindo as novas interpretações que tem ouvido de retorno, os tentáculos estão relacionados ao fato de fazer as pessoas se acostumarem a lidar com os "monstros" de suas vidas e, por isso, passou a espalhar as extremidades de seu próprio pela cidade. “É para que todos possam se acostumar com a presença e saibam lidar com os monstros de suas próprias rotinas. Ele surge em todos os cantos da cidade, de áreas abandonadas e degradadas até lugares mais ‘nobres’ ou com mais atenção, pois existem monstros na vida de todos, não há distinção de classe, gênero ou raça. É como se a cidade estivesse por cima do monstro e ele retomando seu espaço”, diz ele sobre sua marca registrada, mas não única. Após o primeiro ter saído do chão, em outubro do ano passado, Mz encontrou novas possibilidades de explorar seu conceito e, inclusive, suporte para novas ideias – como a possível aparição do tal mostro, por exemplo. “Estou trabalhando em algumas imagens e esculturas para peças futuras, mas os tentáculos nunca vão deixar de aparecer pelas ruas. A questão do monstro aparecer ou não ainda está em aberto, mas posso dizer que (esse conceito) não se resume apenas aos tentáculos”, completou.


Geralmente pintado em preto e branco, os tentáculos de Mz seguem um padrão disciplinado e fácil de ser reconhecido, como se suas articulações fossem uma espécie de impressão digital. Além do estilo inconfundível, a velocidade com a qual ele se multiplica também impressiona. Embora se concentre mais pelas ruas da Tijuca e arredores, os tentáculos estão por todos os cantos. É fato que, mesmo sem grande esforço, topará com algum deles uma hora ou outra, independente de onde andar ou estiver. Questionado sobre essa disposição, digna de pichador "cinco estrelas", o ímpeto da juventude falou mais alto, mas a responsabilidade de quem sabe aonde quer chegar também pôde ser ouvida: “A motivação de ir às ruas você vai adquirindo de maneira muito rápida; basta ir uma vez. A partir do momento que eu tomei a iniciativa de ir lá na rua, sem saber qual era o material mais adequado, onde poderia pintar ou não, sozinho e sem conhecer ninguém do meio para tentar fazer meu primeiro grafite (ou perto disso), a vontade e a motivação despertaram! A cada dia que se passa você vai descobrindo mais e mais fatores que envolvem toda a comunidade do grafite e como a sociedade encara isso tudo. E, ao meu ver, não tem como não se jogar de cabeça nisso tudo e viver o que essa comunidade de arte de rua pode te trazer”.


Neste contexto, tendo em vista que João já possui grafites dedicados ao filho Valentino, os tentáculos - na verdade - são apenas as extremidades de sua correria; ele também tem que bater de frente com seus monstros, buscar seus objetivos e cuidar de sua casa. Ninguém mais está pintando na rua de bobeira não e, com ele, não é diferente. “Eu enfrento meu monstro trabalhando com o que gosto, com o que me da prazer. Faço trabalhos comerciais de grafite, trabalho como designer em uma galeria de arte contemporânea e estou trabalhando em peças minhas para serem disponibilizadas para venda (assim espero)”, conta o artista ou grafiteiro? “Prefiro ser chamado por João ou por Mz. Essa questão de grafiteiro ou artista, na real, não me importa. O que me importa é estar produzindo arte em qualquer que seja a linguagem. Atualmente estou trabalhando na galeria de arte, pois quero viver só da minha arte e ainda tenho muito que aprender. Estou em um ambiente com ótimas pessoas e conhecendo coisas que nenhum curso jamais poderia me ensinar”, completou João. Os tentáculos estão nas paredes e o diálogo vem sendo criado, mas o mistério está longe de ser esclarecido, mesmo com tudo explicado. É andar na rua e se manter ligado, pois muita coisa ainda se desdobrará deste conceito de João. E você, já viu o seu monstro hoje?



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Passo Torto volta ao Rio com 2 shows

Trazendo o repertório do segundo álbum, o elogiado “Passo Elétrico”, a banda invade a Audio Rebel nesta quinta e sexta-feira. Torto ou elétrico, passa lá para conferir... É coisa fina!

Projeto paralelo formado entre os comparsas Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Romulo Fróes e Marcelo Cabral, nomes que também caminham juntos por outras bandas, o Passo Torto demonstrou estar na direção certa – a mesma seguida pela geração como um todo - com o lançamento de seu segundo álbum, presente na lista dos melhores do ano de qualquer bom entendedor. Em contraste com a sonoridade mais violão do disco de estreia, o quarteto optou por se reinventar e não se prender, ou seja, recorreu aos ruídos e distorções da guitarra para dar som a uma densa crônica de Sampa – algo mais Vanzolini do que Rita Lee. Assim foi dado o “Passo Elétrico”, que, apesar da genuína correria paulistana, chegará à cidade maravilhosa com duas datas: quinta (19) e sexta-feira (20/12), na Audio Rebel, em Botafogo.   


Kiko e Marcelo, que produziu o último álbum do Criolo com Ganjaman, participam do Metá Metá; Rodrigo, um dos melhores cronistas de Sampa, e Romulo possuem carreira solo, são parceiros um do outro e de composição, e todos também tocam juntos com Thiago Pethit, que acabou de lançar um disco em homenagem ao conto de João Antônio, “Malagueta, Perus e Bacanaço”. Por conta dessa movimentação e bagagem de seus integrantes, o Passo Torto já nasceu destinado a percorrer um caminho propositalmente diferente em relação aos demais projetos – com uma linha de composição mais peculiar e sem auxilio de bateria, por exemplo. Trata-se de mais um daqueles projetos que, ao invés passar despercebido pelo grande público, deveria ser premiado com algo de muito importante e especial, tipo sua presença no show. É preciso (re)conhecer, principalmente os amantes da boa música... Torto ou elétrico, passa lá para conferir. É coisa fina!

Ouça o álbum completo:



Passo Torto "Passo Elétrico"
Audio Rebel (Quintavant):
Rua Visconde Silva, 55. Botafogo.
R$ 20. A partir das 20h.

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