domingo, 21 de julho de 2013

#82

Alô Dilma: é o Wark Rocinha!

Grafiteiro, professor e agente cultural, Marcos Rodrigo Neves - o Wark Rocinha - vira exemplo ao apresentar uma nova perspectiva aos jovens da comunidade. É instituto resistência e arte urbana!


Há pouco mais de um mês, no Complexo Esportivo da Rocinha, a presidente Dilma Rousseff deu o pontapé inicial do chamado PAC 2, programa no qual serão investidos R$ 2,6 bilhões em apenas três das inúmeras favelas cariocas (Jacarezinho, zona norte; Complexo do Lins, na zona oeste, e Rocinha, na zona sul). Notavelmente bem-humorada - ou seja, antes da onda de manifestações registrada no país -, a presidente falou que, com tal projeto, somente a Rocinha receberia R$ 1,6 bilhão em obras de macrodrenagem de esgoto e água, instalação de rede coletora de lixo, alargamento de ruas, construção de creches, 475 unidades habitacionais e, inclusive, um teleférico integrado ao metrô. Após um discurso presidencial de quase 30 minutos, o qual era seguido de perto pelo prefeito Eduardo Paes, pelo governador Sérgio Cabral e seu vice Luiz Fernando Pezão, uma reivindicação acabou quebrando o cronograma ao representar as demais relacionadas com o que o povo realmente queria - neste caso, ser ouvido poderia ser a primeira delas. A exigência em questão, que veio acompanhada de uma tela dada de presente, era simples, mas foi feita diretamente a Dilma: “uma galeria de arte”, reivindicou Wark Rocinha, o Marcos Rodrigo Neves, professor de graffiti e agente cultural propagador da arte urbana na comunidade. “Eu queria agradecer ao Wagner... Wagne da Rocinha... Vark, como é mesmo?”, disse na ocasião Dilma, que, embora não tenha conseguido entender ao certo a pronuncia do nome do artista “soprada” pelo público, pode ouvir muito bem a singela reivindicação. 


O que aparentemente pode ser muito fácil de ser solucionado é também a maior luta de Wark, um exemplo a ser seguido na comunidade onde nasceu e conseguiu crescer. Apaixonado pela arte de desenhar desde criança, o então Marcos, entre 2000 e 2001, resolveu se aventurar no universo paralelo do graffiti como “uma forma de mostrar suas ilustrações e pensamento para sociedade”, ou seja, de suprir a necessidade de falar e ser ouvido – o conceito de auto-inclusão encontrado por muitos através da técnica da tinta nos muros. Após espalhar seus personagens pela comunidade e por toda cidade - como o “Bolinha Palhaço” -, Wark passou a compartilhar esse poder transformador da arte e, de aluno da EAV Parque Lage a professor, deu início a uma luta para propagar a arte urbana dentro da comunidade e dar aos jovens o colorido de uma nova alternativa de futuro. “No graffiti ganhei alunos, amigos, viagens, reconhecimento e exemplo, tudo com força de vontade, dedicação e muita felicidade em poder repassar o aprendizado”, resume Wark, que se mostra ciente do exemplo servido aos jovens locais, mas, como todos os de verdade, prefere manter os pés no chão. “Acredito que sim (serve de exemplo), pois o graffiti através da arte traz inspiração para diversos pensamentos. Daí que surge a consequência da admiração. Também acredito que cada um pode fazer sua parte. Faço a minha através do graffiti ao resgatar jovens das comunidades para a arte, implantando cidadania e consciência”, completa o artista, que, desde o início, alia sua carreira ao projeto social.


Enquanto a verba do PAC não traz melhoras consistentes, assim como a suposta política de pacificação implantada na comunidade há quase dois anos, Wark vai riscando sua meta e, com um traço cada vez mais apurado, tocando uma de suas maiores conquistas ao longo dessa caminhada: o Instituto Wark, fundado em 2011 ao lado da (outra conquista) mulher Ale Lima. Mas, e a galeria? “Acredito que um dia teremos a galeria de arte da Rocinha. Luto muito para isso acontecer de fato e de diversas formas... Sabe, essa luta é coletiva junto com outros artistas da Rocinha. Eu sou apenas mais um que luta em prol dessa conquista”, rebate Wark, também criador e idealizador da Expo. Galeria Urbana da Rocinha. Desta forma, em paralelo à sua carreira, marcada pelos projetos “Imortalizar Expressões” (dedicado a imagens de figuras públicas), “Mulheres” e pela participação na Cow Parade (com a vaca Dona Rocinha), além de seus irreverentes personagens, o ativo artista mantém viva “a única escola de arte da comunidade”, atualmente situada na Estrada da Gávea, Travessa Escada, Loja 101. Sem contar com nenhum patrocínio de fato e bancando muita coisa com verba do seu “próprio bolso”, Wark e seus parcerias se desdobram para manter o instituto com a disponibilidade de vagas no limite e, como de costume, sempre cheio, fato que comprova a carência de atividades culturais na comunidade e a sobra de interesse. A tão sonhada galeria pode não ter chegado, mas o Instituto Wark é uma realidade e, ao contrário da verbas anunciadas pela presidente, já anda transformando a realidade dos jovens moradores da Rocinha. Para quem quiser conhecer, o espaço está aberto e, inclusive, para possíveis apoios. Salve Wark Rocinha!!!


Instituto Wark (21) 3324-3623
Estrada da Gávea, Travessa Escada, Loja 101.
Contatos: iwrocinha@gmail.com


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