quarta-feira, 4 de setembro de 2013

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ArtRua: um retorno mais que grandioso

Em sua segunda edição em terras cariocas, a mostra paralela à feira ArtRio volta à Gamboa e, desta vez, com ares de festival. “Só vendo de perto”, como disse o idealizador André Bretas.

Em paralelo à realização da terceira edição da ArtRio, a Feira Internacional de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro, que abre suas portas ao público nesta quinta-feira (05/09), o ArtRua ocupa a Vila Olímpica da Gamboa para traçar um verdadeiro panorama da arte urbana nacional, segmento cada vez mais distante da marginalidade dos muros e vinculado a um lucrativo mercado. Embora ainda não tenha as ambições da matriz, que no último ano arrecadou R$ 120 milhões e recebeu 74 mil visitantes no Píer Mauá, a mostra paralela chega à sua segunda edição em terras cariocas como um grandioso festival, mas sob os mesmos objetivos: revitalizar a fantasmagórica região portuária e movimentar o amplo negócio do grafite, ou melhor, da arte vinda das ruas – como sugere o título.

Vista de um dos galpões. Ao fundo, o Morro da Providência.
Imagem: Henrique Madeira/Divulgação.
“Uma feira de arte só é uma feira quando possui uma mostra paralela. Em 2009, quando estava na Miami Art Basel, pude presenciar o nascimento de algumas mostras de grande destaque e logo pensei em trazer isso ao Rio”, revelou o “novo marchand” André Bretas, idealizador do evento e quem, desde o primeiro contato com “Brenda” (Valansi), obteve total apoio da mostra oficial “para criar um mercado de arte urbana no Rio”. Através de uma parceria entre o Instituto Rua, também idealizado por Bretas, e a produtora Visionart’z, o evento - até para compensar a última edição, marcada pela pintura de painéis em Wynwood Walls (em Miami) - ocupa agora os dois imensos galpões do antigo armazém ferroviário, além de uma área externa de 7,5 mil metros quadrados. Exagero? Não para comportar um público esperado de 10 mil pessoas.

O artista Marcelo Ment durante a produção de seu painel.
Imagem: Henrique Madeira/Divulgação
A grandiosidade do ArtRua, no entanto, não se refere somente às dimensões, mas também às inovações, como duas noites de festas (de R$ 60 a R$ 80) e o chamado Palco Jardim, que trará atrações musicais como Opala e Shibatonics ao longo de todo os dias. Em meio ao colorido dos painéis, ainda haverá um ciclo de debates sobre o Mercado da Arte (quinta) e a Revitalização Urbana (sexta), os principais motes do evento. A instalação "A casa, a carga e o vento", de Felipe Bardy, que também assina a cenografia “ecológica” do evento, e uma exposição sobre a história do Instituto Rua, montada pelo fotografo Henrique Madeira em um dos vagões esquecidos no armazém, também são destaques desta edição, que ainda terá: uma galeria para facilitar o contato entre compradores e artistas, oficinas para crianças e, é claro , uma “lojinha pós-museu”.

Painel feito pelo artista carioca Gais Ama.
Imagem: Henrique Madeira/Divulgação
Além das atrações dentro do espaço, o chamado Wall Projects, uma espécie de “museu a céu aberto”, ainda espalha diversos painéis pelos arredores da Gamboa e do morro da Providência, situado em frente aos galpões. Neste caso, a ideia é criar roteiros inspirados em cidades como Buenos Aires, onde os passeios turísticos pelos grafites fazem parte da programação cultural da cidade. Já em relação aos artistas presentes, uma verdadeira nata entre nomes de destaque, revelações em ascensão e pratas da casa, o ArtRua se mostra inquestionável, principalmente pela variedade das obras produzidas. Cada um defende seu próprio estilo, mas a genialidade aparece como algo em comum e, mesmo com muitos de fora, o resultado é para lá de surpreendente. Tem até um imenso Cristo Redentor feito em caixas de papelão.

Detalhe de parte do painel do artista: Carlos "ACME" Esquivel
Imagem: Henrique Madeira/Divulgação
“Já fiz várias coisas ligadas à reciclagem em São Paulo e essa era a chance de trazer minha mensagem para cá. Estive aqui na época da Rio+20 com o Pimp My Carroça. Mas, agora, a cidade está fervendo, o clima de  protesto está no ar e eu não poderia ficar apenas no mural e na venda de quadro. Tem muita coisa acontecendo por aí. Aqui, na verdade, eu uso um simbolo do Rio para falar de outros problemas”, apontou Tiago “Mundano”, um dos mais de 50 artistas presentes no evento, sem falar no pessoal do apoio, da manutenção e nos responsáveis pela coordenação. “Rios de corrupção”, diz a frase estampada no peito do cristo “ papo reto” de Mundano.

Intervenção realizada no Morro da Providência.
Imagem: Henrique Madeira/Divulgação.
Ao todo, entre 22 painéis e outras intervenções, o público poderá conferir de perto o trabalho por artistas como Carlos “ACME” Esquivel, “Bruno Big”, “SWK” Panmela “Anarkia” Castro,  João “Lelo”, Wesley “Combone”, Márcio “Bunys”, Carlos “Bobi”, Marcelo “Ment”, Thiago “Tarm”, Tomaz “Toz”, “Gais Ama”, “AKN” (SP), “Flip” (SP), “Sliks” (SP), “Binho” (SP), “Minhau (SP)”, “Chivitz (SP)”, “Nilo Zack” (MG) e “Selon” (GO), entre outros. “Nos surpreendemos muito com os painéis do “Bragga” (RJ) e do “Grupo Acidum”, formado por um casal de Fortaleza. Isso sem falar na participação dos franceses do 123 Klan (Carole Boudart e Sebastien Jacob) e dos australianos do Dabs Mayla (Darren Mate e  Emmelene Victoria).”, completou o idealizador sem esconder a alegria pelo nível das obras presentes no evento. “Só vendo de perto”, finalizou.

Confira a programação completa do ArtRua.

Lembra da primeira edição? (aqui)

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