Vidigalo: é Vidigal 100 Segredos
Formado por um alemão e um português, o estúdio de design Vidigalo lança o primeiro mapa turistíco da comunidade; a ideia é eliminar a divisão entre morro e asfalto.
Após descer na Niemeyer, subir a Presidente João Goulart, passar pelo Ninho do Urubu, dobrar à direita no Pastel do Céu e chegar à rua do bar Carlão, você poderá encontrar facilmente a casa onde funciona a Vidigalo, um estúdio de design e comunicação formado pelo alemão André Koller e pelo português Gonçalo Pires - ambos bem “acariocados”. No entanto, para quem não está habituado a circular pelo Vidigal, essa tarefa não seria tão simples assim, já que o local, além do antigo estereótipo de “área de risco”, não possui uma identificação clara de suas ruas e vielas. Ou melhor, não possuía. Isso porque, a dupla de designer gráfico e web designer, que já mora no Vidigal há dois anos, resolveu iniciar um projeto de mapeamento do morro pensando em divulgar tudo o que essa surpreendente comunidade pode oferecer aos visitantes e moradores. Assim, nasceu o primeiro mapa de bairro do Vidigal, intitulado “Vidigal 100 Segredos”. “Pensamos em divulgar o estúdio com um material que fosse útil aos moradores e que também contrariasse essa perspectiva negativa da comunidade. Sempre gostei de trabalhar com infográficos, e a ideia de mapear a comunidade apareceu como uma boa opção e também uma necessidade. Além de apresentar aos moradores o local onde eles moram, o mapa também acaba incentivando o desenvolvimento do comércio e dos espaços culturais da região”, afirma André, que ainda brinca: antes nem as encomendas Sedex chegavam aqui em casa (o Q.G. do Vidigalo).
Além da falta de patrocínio, o mapa, que apresenta uma tiragem de 4 mil exemplares em sua primeira edição, enfrentou muitas outras adversidades até conseguir ser impresso. As vielas e becos com esgoto a céu aberto da parte alta, difíceis de serem catalogadas até pela prefeitura, foi uma delas, assim como as rápidas transformações do comercio local – a oficina do Jô, por exemplo, se transforma em pista de dança nas noites do final de semana e, o melhor, com ótimas festas (Lamparina). Ao percorrer o morro de cima a baixo, o expedicionário alemão encontrou lugares de difícil acesso, presenciou batizado de bares que não tinham nome - como o da “Ana” -, enfrentou a desconfiança de alguns proprietários e conheceu muitos projetos e pessoas interessantes, como conta: “O Vidigal também possui suas próprias divisões. A parte alta (invadida) e a parte baixa (loteada) apresentam certos contrastes. Tempos atrás, a avenida dividia o morro e cada lado era dominado por uma facção diferente. Mas, no geral, é uma comunidade muito rica em sua diversidade. Aqui existem muitos pontos de cultura - como o Teatro Vidigal e o Nós do Morro -, e vivem muitos artistas, muitas pessoas ligadas à cultura e interessadas em trabalhar esse conceito. Muitas coisas mudaram desde que cheguei aqui e, certamente, essa mudança fará do Vidigal uma área ainda mais acessível ao turismo, o que também justifica a elaboração do mapa. A região está se desenvolvendo economicamente, e a euforia do povo nas ruas reflete isso. Mas, o importante é que a comunidade nos abraçou e sempre se mostrou participativa em relação à proposta do mapa e aos demais”.
A ideia de mapear o Vidigal adentro, que até pouco tempo atrás poderia representar um evidente risco de vida, hoje consegue trabalhar muito bem como o conceito da inclusão, tanto dos moradores como a do próprio bairro – antes marcado pelo domínio do tráfico e pela ausência do Estado. “A maioria dos mapas estabelecem limites territoriais, enquanto o Vidigal 100 Segredos segue um caminho oposto, ou seja, busca eliminar a linha existente entre morro e asfalto”, declara o alemão. Assim como o empresário teuto-brasileiro Hans Stern, que deu nome ao mirante do Vidigal (e não Leblon) - como defende André -, a dupla também seguia para o trabalho de fusca. Do alto Leblon, onde moravam, até a Barra, o carro sempre ratiava e acabava precisando de reparos. Assim, a dupla conheceu o Vidigal e o mecânico Décio, proprietário da casa onde a Vidigalo começou sua história. Dois anos depois, o estúdio, antes de lançar a segunda edição do mapa (daqui a três meses), mantém a colaboração com outros projetos dentro da comunidade, como o trabalho da VDGTV – a televisão do Vidigal -, do parque ecológico Sitiê e um evento cultural no Armazém de Ideia, onde todas as sextas Gonçalo exerce seu lado musical e se apresenta em uma jam session com músicos da banda Cacumbú, entre sessões de poesias e outros trabalhos. É pegar o mapa e subir morro sem medo de ser feliz...
*No dia 18 de junho, dia oficial da visitação da Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável e economia verde) ao Vidigal, o mapa da agência Vidigalo, que integra essa comissão de moradores, terá sete copias ampliadas e espalhadas por diferentes pontos da comunidade para auxiliar as pessoas que estarão participando do evento.
Informações sobre o mapa e outros serviços: http://www.vidigalo.com/
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