segunda-feira, 22 de abril de 2013

#72


M&M´s: Ment e Mark na Homegrown

Celebrando 15 anos de graffiti, Marcelo Ment fala sobre sua caminhada pelos muros do Rio e ainda esmiúça a exposição “MM+MM”, um encontro em branco e preto com o designer Mark Miner.

Com exatos 15 anos de graffiti nas costas e vivendo o sonho de (sobre)viver de arte “em um país tão injusto economicamente”, o grafiteiro Marcelo “Ment” - assinatura que virou uma espécie de grife nos muros do Rio de janeiro - segue sua trajetória a caminho do vento e sem dar passos maiores do que as pernas, em outras palavras, em busca de novos suportes, materiais, estudos, referências e reinvenções sem se deslumbrar. Em sua última empreitada, por exemplo, o “desafio” foi desenvolver uma mostra sem contar com uma de suas marcas registradas: a rica mistura de cores. Isso porque, a exposição “MM+MM”, um encontro entre o artista carioca e o designer sênior da Nike Mark Miner - criador do tênis mais vendido da atualidade -, só conta com trabalhos em preto e branco, seja nos prints numerados e feitos em ‘fine art’ ou na exclusiva linha de camisetas que integra o projeto. Nesta, alguns trabalhos terão a assinatura de Ment, outros de Mark e outros por ambos a quatro mãos, como uma tela de 2m x 1,40m que traz uma técnica mista. Quem quiser conferir, a mostra, que foi inaugurada na última quinta-feira (18/04), seguirá aberta ao público na Homegrown (Rua: Maria Quitéria, 68. Ipanema) até o dia 11/05. É só chegar, a loja está na ativa.



“O trabalho dele é muito icônico e expressivo a meu ver. Quando anda pela rua, você logo reconhece o trabalho do Ment e muito por seu estilo. As linhas que ele usa para pintar são muito expressivas e carregadas de personalidade. Vê-lo pintar ao vivo será algo que nunca vou esquecer. Estou muito curioso para ver como sua arte e estilo vão se desenvolver no futuro”, afirma o designer americano, que conheceu Ment há dois anos e, desde então, passou a compartilhar suas similaridades com o “irmão”. Em dezembro, na última vez que Mark esteve no Rio, Ment pensava em elaborar a tal exposição sem cores e a ideia da parceria surgiu meio que naturalmente, enquanto a realização foi articulada em dois meses via Skype. “Desde o primeiro momento falamos em trabalhar no improviso total, conversamos sobre nossas ideias, formatamos o conceito da exposição e partimos para a execução. Como não existe uma competitividade entre nós – característica que foi fundamental -, tentamos nos focar no resultado final de cada peça, independente de ser uma arte minha, dele ou feita de maneira conjunta”, detalha o artista carioca, que ressalta: “Fiquei impressionado com a capacidade dele em desenhar “freehand”, sem rascunhos e direto da mente para o papel. O trabalho dele tem muitas referencias da arte ‘oldschool’ de tatuagens e gosto bastante desse estilo”.

 


Com base na infância ligada ao desenho e na fascinação pelo spray adquirida através da pichação - ainda em 1992 -, Ment acabou descobrindo uma paixão muito maior, a qual mudaria radicalmente sua vida e, por fim, acabaria realizando seu maior sonho. “Minhas primeiras memórias de criança estão ligadas ao desenho, rabiscava tudo que via pela frente. Também tive um apoio fundamental da minha irmã mais velha que é educadora e sempre me incentivou a desenhar. Além disso, meus irmãos são músicos e artistas, sempre estive cercado de arte na minha vida”, revela o grafiteiro. “Aos 16 anos, trabalhava durante o dia e estudava a noite, sempre sonhando em trabalhar/viver de arte, mesmo sendo uma realidade distante para mim. Em 1998, comecei a pintar nas ruas quase que despretensiosamente, fazendo um graffiti com uma forte influência do estilo clássico de Nova York (o que faço até hoje)”, completa Marcelo ao relembrar o começo de uma trajetória sem ponto final à vista: “Costumo dizer que fui indo pra onde o vento me levou, já que as coisas foram simplesmente acontecendo. Sem demagogia, me considero um aprendiz em tudo que faço e procuro sempre melhorar, buscar mudanças e experimentar coisas novas. Estou muito longe de onde quero chegar, mas sou muito privilegiado por viver fazendo o que amo de verdade”.


Questionado sobre o atual reconhecimento da chamada arte urbana, se essa tendência é mais relacionada ao seu apelo comercial do que artístico, Marcelo Ment, mesmo com toda sua propriedade para falar do assunto, prefere manter a cautela ao dar sua opinião sobre o assunto, mas a resposta se mostra bem clara: “Essa é uma questão muito delicada, grandes empresas usam a linguagem em suas campanhas, projetos e produtos, mas não querem dar o devido valor ou créditos. Não querendo generalizar, pois temos bons exemplos, é muito mais fácil para eles simplesmente “pagar” o mais barato, pedir para artistas iniciantes nos copiarem, usar nosso trabalho sem permissão e fazer do graffiti algo menor, do que reconhecerem nossa arte”. Apesar da queixa citada, o fato é que os traços que antes eram restritos à marginalidade, hoje viraram febre, ganharam espaço em diversos segmentos e, de certa forma, deram outro conceito ao universo das ruas. Detalhe: isso é só o começo, como prevê Ment: “A cena vem crescendo e, atual_ment, temos a internet e um número maior de informação circulando infinitamente do que na época em que comecei e acredito que essa cena está bem no começo ainda. Em minha opinião, temos uma grande diversidade de estilos e isso atrai a atenção de diferentes públicos, galeristas e do mercado em geral”, finaliza.


Assista o teaser da exposição. 
Fotos: Henrique Madeira

Homegrown: Rua Maria Quitéria, 68. Ipanema.
Data: até 11.05.2013

Horários de visitação: 
Seg. a sex. das 10h às 20h. 
Sáb. das 12h às 18h

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