segunda-feira, 1 de abril de 2013

#70

Rádio Legalize: ativismo e fumaça no ar 

Com cinco anos de resistência e fumaça no ar, a webrádio dirigida por Raoni MouChoque acerta a freqüência e anuncia novidades em sua nova fase: da programação ao acesso, quer ouvir? Legalize!

Do quarto de um apartamento situado na região do Lido, em Copacabana, um ativista, produtor, DJ, jornalista e maconheiro consegue fazer um “barulho” muito difícil de ser calado e ouvido pelas autoridades, mas cada vez mais apreciado pelos jovens interessados em saber mais sobre música e, principalmente, sobre o que andam consumindo. O sujeito em questão é o inquieto Raoni Mouchoque, enquanto a sonoridade citada é a que reverbera nas ondas da Rádio Legalize (e que onda). Longe do vital apelo comercial das FM´s, da limitação das comunitárias – que atingem somente um raio de 1km, “como se fosse um grito da janela” -, e bem próximo do rótulo de pirata, a webrádio dirigida por Raoni foi iniciada ainda em 2008, ano em que a Marcha da Maconha foi proibida, e o agitador preso e autuado por apologia ao ser pego fazendo panfletagem. Hoje, perto de completar cinco anos de resistência e de fumaça no ar - no próximo dia 2 de junho -, a Legalize vive um bom momento, com quase 20 programas em sua grade - todos ao vivo, “pontualmente atrasados” e de qualidade -, e apresentando novidades, como o recém-lançado aplicativo, que deu possibilidade das pessoas ouvirem a radio através do celular e também “na volta para casa”. Se ligou na sintonia? Legalize!


“A rádio foi iniciada logo após a proibição da marcha e sempre tive vontade de trabalhar em FM (Já tendo trabalhado na FM O Dia e, atualmente, na Roquette Pinto). Ao mesmo tempo em que era podado nas rádios comerciais, não me interessava muito pelas comunitárias por causa de sua baixa difusão. Além disso, sempre tive uma birra contra as webrádios, pois queria ondas, freqüências e sintonia mesmo”, aponta o diretor ao revelar que só começou a apostar na rádio de internet após conhecer a Rádio Gruta, do amigo Fredinho. A partir daí, com um “tutorial de como se fazer uma rádio on-line” em baixo do braço, Raoni resolveu dar início à missão, que, por sinal, surgiu através do blog Legalize 1995 – nome da crew formada por ele, Baré, Raphael Vaz e Léo Alga. Posteriormente, quando passou a se chamar Legalize, a rádio deixou apenas de tocar música e passou a produzir mais conteúdos próprios – a maioria sobre maconha, claro. Agora, imagina cobrir todos os custos de uma rádio sem nenhum tipo de apoio financeiro e ainda defendendo a legalização da maconha. Só com muito amor mesmo, principalmente ao rádio e à causa.


“As rádios comerciais sobrevivem de ‘jabá’. No caso da Legalize, o patrocínio é algo quase impossível. Aqui, eu só gasto dinheiro e assumo custos, com equipamentos e tudo mais. (A rádio possuí um sistema de som, cdj, pick-ups, mixer e outra série de aparatos) Obviamente que sofremos preconceito com relação à legalização, por uma questão moral. Ninguém quer associar sua marca à causa. Agora, imagina eu falar para um possível patrocinador que a rádio funciona em um quarto da minha casa. Ai que não botam fé mesmo”, ironiza Raoni. “Outra coisa é a questão das piratas, sempre é a primeira pergunta que fazem. Essa associação existe, mas a Legalize é uma webrádio e não há uma legislação especifica em relação a isso”, completa o ativista. Além das adversidades especificas, ainda há outras mais amplas, como a diversidade de plataformas que trabalham com música na internet – last.fm, soundcloud e os lives streams da vida - e a própria fragilidade das rádios, que, atualmente, é tida como algo distante dos jovens, restrito às classes mais baixas e ao “ninguém escuta mais”.


Independente do cenário adverso, nesses cinco anos de caminhada e suas três “temporadas” – quarto, estúdio e quarto novamente -, a rádio Legalize passou por altos e baixos, mas nunca interrompeu sua freqüência, perdeu seu foco e deixou de promover seus eventos. Do final de 2011 para cá, por exemplo, a rádio entrou em uma nova fase e começou a contar com mais colaboradores e programas: o metaleiro Cadáver Sativa, do Mandacaru, o Mr. Mambo Jazz, de Cadu Messina, o espiritualista Haribol, Pachamama, do Pedro Prema Paz, e o esportivo Passando a Bola, com Mc Abissal e Dr. André Barros (que tem o “atleta sequelado da semana e o jogador nota 4.20 da rodada”), são alguns deles. Outra novidade é o aplicativo para iPhone, que animou Raoni e conseguiu ampliar os horizontes da rádio de internet.“Sempre quis que as pessoas pudessem ouvir a rádio na rua, voltando para casa e não mais presas ao computador. Isso foi a realização de um sonho e, em menos de um mês, já tivemos um ótimo retorno”, declara Raoni, que ressalta que, em breve, também lançará o aplicativo voltado à tecnologia Android. Agora, segura ou façam download, é tudo gratuito.


Enquanto a Legalize - como o nome já adianta - trabalha a questão da legalização da maconha em meio à sua programação, o ativismo de Raoni não fica restrito às ondas do rádio, já que o mesmo também é “famoso” por ter organizado inúmeros atos de conscientização. O das 420 mudas simbólicas da planta espalhadas pela areia de Copacabana, por exemplo, chamou atenção das pessoas que passavam pela orla e, de quebra, ainda ganhou notoriedade em diversos veículos da imprensa do Brasil e do exterior. “Eu que organizei o ato e fiz todas aquelas plantas. Lembro que até minha namorada e minha mãe me ajudaram a cortar”, relata o jornalista, ressaltando que a manifestação estava devidamente autorizada e que, inclusive, a polícia havia sido informada no dia anterior. Embora a maioria das pessoas tenha receio de abordar o tema abertamente ou propor reflexões contra o censo comum - “coisa de criminoso e ponto final” -, Raoni segue na direção oposta e adianta que no próximo dia 20 de abril (4/20) - o dia internacional da maconha - haverá outra ação pelas ruas da cidade: “Ainda não sabemos ao certo como vai ser e nem o que vai ser feito, mas o certo é que vamos fazer alguma coisa. É só ficar ligado na rádio que logo anunciaremos o que será feito”.


PXE and The Rocks

Primeiro reforço desta nova fase da Rádio Legalize, o designer e grafiteiro Márcio “PXE”, hoje com 30 edições na bagagem, foi um dos que acreditaram na proposta e passaram a freqüentar a casa de Raoni. “Eu conheci ele no evento Primavera Verde, onde fazia um trabalho com arte. Já trocávamos alguns sons e tals. Um dia estava de bobeira e apareci lá dizendo que queria apresentar um programa. Como sempre fui envolvido com música e garimpeiro (de discos), acabei continuando, mas comecei logo no dia do rock. No início era meio travado, queria dar mais detalhes sobre as músicas e, agora, já levo com mais facilidade”, descreve PXE, que, no momento da entrevista, elaborava o roteiro de seu especial sobre mulheres poucos minutos antes do mesmo ir ao ar. “Já fiz dois programas sobre amor, programas de quatro de horas e outros somente com vinil, mas sempre com foco no roots, rock e underground”, declara o artista que há dois anos faz das cabines de energia e dos tapumes de Copa uma verdadeira galeria a céu aberto e que também faz questão de apresentar uma nova arte a cada edição de seu programa. “O jeito é apostar no que acredita, seja no graffiti, no rádio ou no blog (guia)”, finaliza o amigo PXE.

Para ouvir e saber mais sobre a rádio, Legalize!



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