Marcha da Maconha reúne 10 mil no Rio
Enquanto o Congresso
Nacional perde seu ocioso tempo com uma suposta solução para o aumento do
consumo do crack nas grandes capitais - a discussão do Projeto de Lei 7663/10,
de autoria do deputado Osmar Terra (PMDB/RS) e que insiste na criminalização do
uso de drogas, em penas minimas obrigatórias e na internação compulsória
(involuntária) -, 10 mil cariocas (segundo os organizadores) tomaram a orla de Ipanema neste sábado (11/05)
para mostrar rejeição a tal proposta, apresentar soluções e engrandecer o
debate em torno da legalização da cannabis com a décima edição da Marcha da
Maconha no Rio de Janeiro. Após ter sido novamente liberada pelo STF em 2011,
que qualificou as manifestações como um exercício da liberdade de expressão e
não apologia ao crime, como argumentaram os juízes que a proibiram
anteriormente, a marcha carioca deste ano, além de lembrar os 32 anos da morte
de Bob Marley, também partiu em defesa da aprovação do Recurso Extraordinário
635659, que defende a descriminalização do porte da droga para consumo próprio
e que segue aguardando julgamento no mesmo STF. Assim como esta, que partiu do
Coqueirão (Posto 9) e foi até o Arpoador, o Rio ainda será palco de novas
marchas, como a de Niterói (19/05 na Praia de Icaraí), Nova Iguaçu (25/05 na
Praça do Skate), São Gonçalo (26/05 na Praça do Ex-combatentes), Rio das Ostras
(01/06 na Concha Acústica) e Petrópolis (08/06 na Praça da Inconfidência , as
quais integram as 42 que se espalharão Brasil a fora até o mês de julho. Aliás,
a legalização e o uso terapêutico da maconha vem apresentando avanços
consideráveis em todos cantos do mundo –
como no nosso vizinho Uruguai, do presidente José Mujica, por exemplo. Só não
enxerga quem não quer ver. Vermelhos ou não, é preciso abrir os olhos (e a
mente).
“Acho que muita mudou
coisa de 2002 para cá. Antes o ato era muito pouco conhecido e a nossa bandeira
era vinculada ao discurso do Gabeira, em prol da liberdade individual do
cidadão. Nesse tempo, aprendemos a fazer a relação entre proibição e violência,
deixamos o aspecto individual e chegamos à questão dos direitos humanos, já que
são milhares de pessoas que morrem e jovens encarcerados em massa”, afirma o
vereador Renato Cinco, um dos organizadores do ato na cidade, que também exalta
o comprometimento, a quebra do vinculo com a marginalidade e outros avanços:
“Acho que mudou muita coisa de 2002 para cá. Antes o ato era muito pouco
conhecido e a nossa bandeira era vinculada ao discurso do Gabeira, em prol da
liberdade individual do cidadão. Nesse tempo, aprendemos a fazer a relação
entre proibição e violência, deixamos o aspecto individual e chegamos à questão
dos direitos humanos, já que são milhares de pessoas que morrem e jovens
encarcerados em massa”. Além disso, segundo o vereador, um dos grandes avanços
em relação à legalização da maconha no Brasil foi aprovação da Lei 11.343/2006,
a chamada “Nova Lei de Drogas”, que flexibilizou a conduta das autoridades em
relação aos usuários que portam e plantam pequenas quantidades da droga. “O fim
da pena ao usuário foi uma grande conquista, não só da marcha, como de toda
sociedade. Neste ano vi pela primeira vez partidos de direita colocando em
evidência o debate da legalização, ou seja, até quem é contra é obrigado a
falar sobre o assunto, estimular o debate”, completa.
No entanto, por conta
da má interpretação da lei por partes das “otoridades” e pela falta de ação das
autoridades, a legalização ainda segue indefinida e tradada de maneira
equivocada, mesmo com a repressão e o encarceramento terem se mostrado como
experiências mais que ineficientes Neste
aspecto, a questão não é simplesmente se livrar das drogas e dos drogados –
seja com internação involuntária ou tratamentos em comunidades terapêuticas -,
mas apresentar políticas capazes de conscientizar as pessoas com objetivo de
reduzir o abuso e a violência. “A internação compulsória do usuário deve ser
uma medida extrema de tratamento. A internação como punição é uma tortura. Já
as comunidades terapêuticas são entidades que não fazem tratamento médico, mas
espiritual. Se o estado é laico não pode colocar verba pública nessas
instituições”, adverte o vereador Renato Cinco, que também destacou a
organização e o respeito visto na edição deste ano. Apesar do grande
contingente policial que acompanhava a marcha e do trafego interrompido na Av.
Vieira Souto, os presentes não sofreram nenhum tipo de agressão e conseguiram
chegar até o ponto final sem o registro de incidentes. Embora o cheiro
indicasse o propósito da manifestação, o gesto (que parecia ser de desabafo),
diferente de outras edições, não foi interpretado como uma possível provocação
ou desrespeito. O complexo e necessário debate em torno da legalização está
longe de ser concluído, mas não há como negar que as coisas estão mudando. A
semente está plantada e bons frutos serão colhidos.
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