domingo, 12 de maio de 2013

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Marcha da Maconha reúne 10 mil no Rio

Enquanto o Congresso Nacional perde seu ocioso tempo com uma suposta solução para o aumento do consumo do crack nas grandes capitais - a discussão do Projeto de Lei 7663/10, de autoria do deputado Osmar Terra (PMDB/RS) e que insiste na criminalização do uso de drogas, em penas minimas obrigatórias e na internação compulsória (involuntária) -, 10 mil cariocas (segundo os organizadores) tomaram a orla de Ipanema neste sábado (11/05) para mostrar rejeição a tal proposta, apresentar soluções e engrandecer o debate em torno da legalização da cannabis com a décima edição da Marcha da Maconha no Rio de Janeiro. Após ter sido novamente liberada pelo STF em 2011, que qualificou as manifestações como um exercício da liberdade de expressão e não apologia ao crime, como argumentaram os juízes que a proibiram anteriormente, a marcha carioca deste ano, além de lembrar os 32 anos da morte de Bob Marley, também partiu em defesa da aprovação do Recurso Extraordinário 635659, que defende a descriminalização do porte da droga para consumo próprio e que segue aguardando julgamento no mesmo STF. Assim como esta, que partiu do Coqueirão (Posto 9) e foi até o Arpoador, o Rio ainda será palco de novas marchas, como a de Niterói (19/05 na Praia de Icaraí), Nova Iguaçu (25/05 na Praça do Skate), São Gonçalo (26/05 na Praça do Ex-combatentes), Rio das Ostras (01/06 na Concha Acústica) e Petrópolis (08/06 na Praça da Inconfidência , as quais integram as 42 que se espalharão Brasil a fora até o mês de julho. Aliás, a legalização e o uso terapêutico da maconha vem apresentando avanços consideráveis em todos cantos do mundo  – como no nosso vizinho Uruguai, do presidente José Mujica, por exemplo. Só não enxerga quem não quer ver. Vermelhos ou não, é preciso abrir os olhos (e a mente).


“Acho que muita mudou coisa de 2002 para cá. Antes o ato era muito pouco conhecido e a nossa bandeira era vinculada ao discurso do Gabeira, em prol da liberdade individual do cidadão. Nesse tempo, aprendemos a fazer a relação entre proibição e violência, deixamos o aspecto individual e chegamos à questão dos direitos humanos, já que são milhares de pessoas que morrem e jovens encarcerados em massa”, afirma o vereador Renato Cinco, um dos organizadores do ato na cidade, que também exalta o comprometimento, a quebra do vinculo com a marginalidade e outros avanços: “Acho que mudou muita coisa de 2002 para cá. Antes o ato era muito pouco conhecido e a nossa bandeira era vinculada ao discurso do Gabeira, em prol da liberdade individual do cidadão. Nesse tempo, aprendemos a fazer a relação entre proibição e violência, deixamos o aspecto individual e chegamos à questão dos direitos humanos, já que são milhares de pessoas que morrem e jovens encarcerados em massa”. Além disso, segundo o vereador, um dos grandes avanços em relação à legalização da maconha no Brasil foi aprovação da Lei 11.343/2006, a chamada “Nova Lei de Drogas”, que flexibilizou a conduta das autoridades em relação aos usuários que portam e plantam pequenas quantidades da droga. “O fim da pena ao usuário foi uma grande conquista, não só da marcha, como de toda sociedade. Neste ano vi pela primeira vez partidos de direita colocando em evidência o debate da legalização, ou seja, até quem é contra é obrigado a falar sobre o assunto, estimular o debate”, completa.


No entanto, por conta da má interpretação da lei por partes das “otoridades” e pela falta de ação das autoridades, a legalização ainda segue indefinida e tradada de maneira equivocada, mesmo com a repressão e o encarceramento terem se mostrado como experiências mais que ineficientes  Neste aspecto, a questão não é simplesmente se livrar das drogas e dos drogados – seja com internação involuntária ou tratamentos em comunidades terapêuticas -, mas apresentar políticas capazes de conscientizar as pessoas com objetivo de reduzir o abuso e a violência. “A internação compulsória do usuário deve ser uma medida extrema de tratamento. A internação como punição é uma tortura. Já as comunidades terapêuticas são entidades que não fazem tratamento médico, mas espiritual. Se o estado é laico não pode colocar verba pública nessas instituições”, adverte o vereador Renato Cinco, que também destacou a organização e o respeito visto na edição deste ano. Apesar do grande contingente policial que acompanhava a marcha e do trafego interrompido na Av. Vieira Souto, os presentes não sofreram nenhum tipo de agressão e conseguiram chegar até o ponto final sem o registro de incidentes. Embora o cheiro indicasse o propósito da manifestação, o gesto (que parecia ser de desabafo), diferente de outras edições, não foi interpretado como uma possível provocação ou desrespeito. O complexo e necessário debate em torno da legalização está longe de ser concluído, mas não há como negar que as coisas estão mudando. A semente está plantada e bons frutos serão colhidos. 



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