Com assinatura de João Falcão, o musical “Gonzagão - A Lenda”, que reestreou no Rio nesta quinta-feira (30/06),
leva o sertão aos palcos para celebrar o centenário do Rei do Baião. Visse?
Em paralelo ao barulho em torno do lançamento do filme
“Gonzaga – De Pai Pra Filho”, do diretor Breno Silvera - o mesmo de “Dois
Filhos de Francisco” -, o musical “Gonzagão a Lenda”, assinado por João Falcão,
entrou em cartaz no Sesc Ginástico no ano passado longe de ser uma megaprodução, mas muito perto do que torna o
teatro tão mágico. Diferente da trama exibida nas telonas, mais focada na
problemática relação dos Gonzagas - a mesma receita de pai e filho usada pelo diretor outrora –
e na própria história, a peça se mostra mais descompromissada e, justamente por isso,
surpreende com seu conceito de sertão e também de musical. É cabra macho
falando fino, muié – uma só – fazendo o fole ronca e até satanás de Lady Gaga,
enquanto os clássicos do rei do baião dão tom a um divertido espetáculo. Apesar de não se
aprofundar a fundo na dramática e vitoriosa trajetória de vida do personagem em
questão e, inclusive, se desculpar por isso em seu programa, trata-se de uma
grande homenagem do teatro ao centenário do Rei do Baião e não mais uma. Aos
interessados, o espetáculo, que reestreia nesta quinta-feira, seguirá em cartaz até 14/07 no Teatro Carlos Gomes, sendo apresentado de quinta a domingo.
Assim como os atores que interpretaram Gonzaga no cinema,
Chambinho do Acordeon e Adélio Lima (aos 70 anos), o Rei do Baião de Gonzagão a
Lenda, Marcelo Mimoso, não é um ator de oficio, ao menos, não era até então.
Mimoso, que se agiganta em cena e, às vezes, chega a arrepiar pela semelhança
vocal alcançada, é taxista e foi “descoberto” por João Falcão (foto abaixo, dir.) ao acaso,
cantando e tocando sanfona na Lapa. Além desse precioso achado, que, apesar de
possuir visíveis limitações em sua interpretação, consegue corresponder à altura o que
lhe foi proposto, os demais atores – Laila Garin, Adren Alves (impecável),
Alfredo Del Penho, Eduardo Rios, Fabio Enriquez (foto abaixo, esq.), Paulo de Melo, Renato Luciano
e Ricca de Barros - também chamam a atenção, principalmente pela versatilidade,
característica fundamental para uma peça que transforma um suposto drama
em uma lúdica comédia. O cenário e o figurino, que evocam um lado meio pós-punk
do agreste, reafirmam essa espécie de avesso de sertão, que, por sinal, se
encaixa perfeitamente na agilidade das passagens e dos diálogos. É muito
divertido.
Alternando pinceladas da rica biografia do Rei do Baião e
as aventuras de uma trupe chamada “Barca dos Corações Partidos”, o musical de
João Falcão arrancou muitos aplausos em sua estreia, realizada ainda no ano passado (17/10), por não ter medo de se arriscar e buscar algo novo. Na contramão da receita usada
pelos musicais baseado em grandes figuras da musica nacional, que
costumam seguir a biografia e musicar toda história – como o do Tim Maia,
inspirado na obra de Nelson Motta -, o Gonzagão rememora a trajetória deste
verdadeiro ícone da cultura nordestina com base em suas músicas, causos e,
sobretudo, causa: o próprio sertão. Apesar de não situar completamente aqueles que
não conhecem a vida de Luiz Gonzaga, a peça ganha muito ao optar pela leveza,
pelo espetáculo e pela fuga dos estereótipos – inclusive na banda, formada por
apenas quatro instrumentistas. No final, após grandes interpretações das músicas “A Vida do Viajante” e “Sangrando” (de Gonzaguinha), o
espetáculo anuncia seu desfecho com ar de missão cumprida, de homenagem feita e
bem feita. Viva o teatro e, se possível, (re)viva Luiz Gonzaga!
Gonzagão A Lenda: Teatro Carlos Gomes
Pça Tiradentes, s/n. Centro.
Ingressos: De R$ 20 a R$ 60
Até 14/07. Quinta, Sexta e Sábado, às 20h.
Domingo, às 19h.
Domingo, às 19h.
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